
Lugar de Mulher
Reflexões para o Dia Internacional da Mulher
“Me deixe carregar, esse cilindro é muito pesado”
“Se preciso de ajuda? Claro, leve essa nadadeira”
“Tem certeza que quer ir conosco no barco? Aguenta o tranco?”
Olá! O meu nome é Luiza Gomes, sou mergulhadora, bióloga da Pró-Mar e vou lhe contar minha trajetória como mulher na ciência e no mergulho
As frases escritas acima não foram inventadas ou encontradas na internet, foram presenciadas. Ao longo de toda minha vida acadêmica e profissional, me deparei com diversas situações em que fui diminuída, excluída ou desrespeitada por ser mulher. Notei que a grande maioria dos meus orientadores, principalmente no mergulho, foram homens. Não desmerecendo o trabalho dos homens, claro, mas, em situações específicas da minha vida, eu me sentiria mais à vontade se a minha formação tivesse sido comandada por mulheres. Muitas cenas de desrespeito, deboche e até mesmo abuso, teriam sido evitadas. Mas, não podemos mudar o passado, certo? Então vamos em frente.
Nós cientistas entendemos que, para obter sucesso na ciência, a diversidade de gênero é fundamental. Porém, é nítido a predominância dos homens na ciência, principalmente em embarques científicos e mergulhos. Para confirmar meu ponto: de acordo com informações da Universidade de São Paulo (USP), somente a partir da década de 60 que a participação feminina em expedições científicas embarcadas passou a ser liberada. Uma liberação um tanto quanto tardia, não acham? E, ainda citando a USP e o curso de oceanografia em especial, o público feminino representa apenas 38% dos cientistas do mundo. Falta de conhecimento ou interesse feminino? Eu diria que não. O que não entendo, é que o título de “única pessoa a receber dois prêmios Nobel em áreas diferentes” foi conquistado por uma mulher, no ano de 1911. Outro grande marco na história da humanidade tem o nome de Ada Lovelace, a primeira programadora do mundo. O que significa que, se usamos computadores e celulares hoje, devemos agradecimentos à uma mulher.
Porém, com todo o histórico esmagador sobre as mulheres, somos extremamente geniosas e fazemos história com cada conquista. Voltando à minha história, tive o prazer de trabalhar nas áreas mais distintas e consideradas exclusivamente para homens dentro da biologia. Trabalhei com logística pesquisa, na fiscalização ambiental do Porto de Santos, fiz parte da equipe de pesquisa de um projeto para conservação da raia manta (um animal de 8m de envergadura) e atuei como mergulhadora em um projeto de monitoramento dos recifes de coral (sim, com embarques, carregamento de pesos e tudo que temos direito). Nesse último, em especial, tive o prazer de trabalhar com figuras femininas fortíssimas, incluindo a professora Beatrice Padovani, idealizadora do Reef Check Brasil e, fiquem impressionados, em um time comandado e composto quase que totalmente por mulheres. Atualmente, continuo na área, trabalhando com o monitoramento de recifes de coral e coordenando equipes para que sigam o caminho da conservação.
Então, o que trava a sociedade a acreditar no potencial de uma mulher? Por que tamanha desconfiança na inteligência e meticulosidade de uma figura feminina?
Lugar de mulher é na ciência, lugar de mulher é onde ela quiser.
Luiza Gomes, mergulhadora e bióloga da Pró-Mar