Adriana Muniz

Lugar de Mulher

Reflexões para o Dia Internacional da Mulher

Refletir sobre o significado desse dia 8 de março é também fazer uma retrospectiva de minha história de vida sendo mulher. Refazendo o caminho que me trouxe até aqui e como precisei desenvolver a capacidade de pensar e agir em muitas direções ao mesmo tempo.

A minha trajetória profissional, se confunde com o tempo em que vivo na ilha de Itaparica.

Professora da rede pública municipal desde 1992, vivi em 1998 uma profunda inquietação relacionada como então modelo de educação. Me sentia sempre angustiada de fazer parte do sistema que afastava o aluno de sua essência, quando deveria honrar a missão de fazê-lo partícipe no processo de transformação.

Procurei driblar essa angústia, promovendo movimentos interativos com as turmas, quando começaram a emergir do grupo questões relacionadas à pesca predatória (com vítimas entre os estudantes) e outras questões relacionadas à crimes ambientais.

Logo procurei pesquisar sobre o tema e em junho de 1999 estava realizando um ciclo de palestras na semana do meio ambiente, em várias escolas da rede municipal.

A Felicidade nos ensina Maslow, é a sensação de preenchimento inversamente proporcional à distância entre que uma pessoa é, e aquilo que ela pode ser. Dessa forma entendemos que a felicidade não está somente ligada à posse de bens, às boas condições de saúde e mesmo a tranquilidade e a paz na vida afetiva e profissional. Em sua essência, a felicidade é a sensação que resulta da certeza de estarmos realizando nosso potencial.

Nenhum homem, porém, é capaz de fazer isso sozinho. “Um homem sozinho não tem chance”, escreveu Heningway. Para transformar as suas circunstâncias, os homens precisam aprender a trabalhar juntos para atingir objetivos comuns. Esta é a capacidade que os teóricos do desenvolvimento denominam de Capital social. Mas a escola não me ofereceu esse espaço.

A certeza do caminho a seguir veio, quando minha filha Janaína (na época com 7 anos) questionou o fato do pai pescador, capturar lagostas ovadas. A partir daí pude ter a real certeza da necessidade de mudança, nos rumos de minha vida.

Em dezembro de 1999 participei da fundação e presidi até fevereiro de 2006 a Organização Socioambientalista Pró Mar, entidade foco de resistência ao processo de degradação social, resultante da falta de políticas ambientais voltadas aos municípios da Ilha de Itaparica.

Em seguida, participei da fundação da Federação das ONG´s da Ilha de Itaparica e Região, tendo sido presidente por uma gestão, quando realizei o primeiro censo do terceiro setor da Ilha de Itaparica, atendendo 32 instituições, em projeto de fortalecimento institucional.

Tive participação também na fundação dos Conselhos Municipais de Turismo e Meio Ambiente, tendo sido presidente deste último, no período entre julho de 2019 a fevereiro de 2021.

Não posso deixar de mencionar a participação na fundação da Terra do Meio Organização Socioambientalista, que desenvolveu um projeto de protagonismo infantil de nome Terra das Crianças.

Para realizar tudo isso, foi preciso uma grande demanda de tempo de modo a conciliar as atividades profissionais e domésticas, a assistência a família. Foi preciso, muitas vezes, passar por cima das pressões sociais e familiares, driblar o preconceito e a discriminação por ser mulher.

Hoje, continuo buscando novos caminhos e soluções com feições mais humanas, ainda que em ambientes aparentemente desfavoráveis. Isso ocorre porque já percorri um longo caminho pela igualdade de gênero e, por isso, almejo um espaço de trabalho mais equilibrado e harmônico, onde líderes e liderados possam juntos, construir organizações de sucesso.

E com isso, nós mulheres, não queremos provar que somos melhores que os homens. Apenas queremos chances iguais de mostrar nosso valor e sermos reconhecidas e respeitadas por isso.

Adriana Muniz é uma mãe feliz, Socióloga e Especialista em Educação Ambiental