Karina Martins

Lugar de Mulher

Reflexões para o Dia Internacional da Mulher

Quando estava na licenciatura em Ciências Biológicas, em minha turma as mulheres eram a maioria. Mas é claro! Era um curso de formação de professoras, alguns dirão! Mas à medida que o tempo foi passando e fui chegando mais perto do momento de escolher um tema para o Trabalho de Conclusão de Curso e me aprofundando em leituras da área mais específica da biologia, fui vendo que a literatura recomendada era essencialmente masculina. Mas como pode ser isso, se dentro das salas de aula, incluindo docentes, era formado por mulheres em sua maioria? Nessa época estagiei em um laboratório coordenado por mulheres; a pessoa que me ensinou sobre o trabalho em um Museu de História Natural, também mulher; as colegas de laboratório e nos laboratórios vizinhos, maioria mulher; éramos maioria na turma do mestrado e no doutorado também.

Infelizmente esse é um cenário muito mais amplo do que podemos imaginar, principalmente quando não fazemos parte desse mundo acadêmico da pesquisa e produção científica (estima-se que no Brasil, 80% da população com idade entre 25 a 34 anos nem sequer chega ao ensino superior, de acordo com dados do Fórum Econômico Mundial). Mas existe um cenário bem mais positivo para esse número, vou explicar: Um relatório da UNESCO de 2018, revela que 28,8% dos pesquisadores no mundo são mulheres, no Brasil esse número é ainda maior ficando entre 45% e 55% do total. Somos maioria nos cursos de graduação e pós graduação também, em 2016, eram mais de 126 mil mulheres matriculadas em cursos de doutorado e mestrado – número 18% maior que o de homens matriculados nos mesmos cursos (cerca de 107 mil).

Apesar de serem maioria na graduação e na pós‑graduação, as mulheres ainda estão sub‑representadas em áreas tradicionalmente concebidas como masculinas, como as engenharias, a computação, as ciências exatas e da terra. Esse fato é reforçado dentro dos contextos sociais, como na família e, por vezes, a própria escola, quando sustentam afirmações do tipo “meninas não gostam das disciplinas como matemática e física”.

Mas o que acontece então, quando realizamos buscas por artigos científicos, pesquisadores ou invenções, nomes de homens são os primeiros a aparecer? Essa falta de reconhecimento tem raízes históricas. Ao longo dos séculos, as descobertas e trabalhos feitos por mulheres tendem a ser menos valorizados ou atribuídos a homens. O fenômeno é tão real e com tantos exemplos que tem até nome: Efeito Matilda (Rosstier, 1993).

O Efeito Matilda é definido como um sub-reconhecimento sistemático de mulheres cientistas ao longo da história, e é tão enraizado que acaba, inclusive, prejudicando o progresso das mulheres na ciência. Ao longo da história, infelizmente, o mais comum é que um colega do sexo masculino ou o coordenador do laboratório ou instituto receba todo o crédito pelo trabalho realizado em conjunto ou unicamente por mulheres.

Qual é então o lugar da mulher no mercado profissional? Ao contrário do que o sistema patriarcal de hoje nos mostra, podemos ocupar qualquer lugar! E mais que ocupar os lugares nas ciências, engenharias, tecnologias, artes queremos, e nos é justo, sermos reconhecidas pelos nossos feitos. Precisamos estar mais unidas e exaltando os feitos de outras mulheres, pois só assim, poderemos ir contra o sistema que nos segrega e menospreza e, vamos enfim, destacar o nosso valor.
8 de março ainda é um dia de luta, mas celebremos o que já conquistamos até aqui!

Esperamos assim, contribuir com mais informação, reconhecendo os trabalhos feitos por mulheres cientistas, educadoras, pesquisadoras, mães e incentivar outras mulheres a não desistirem de ocupar o lugar que desejam!

Boa leitura!

Karina Martins, mãe, bióloga e coordenadora de projetos na PRÓ-MAR